As mãos que esperavam amparar dois bebês seguram uma caixa enfeitada por laço. Destampado, o pequeno invólucro revela dois nomes, algumas fraldas, poucos pares de meias e um capítulo trágico da rede pública de saúde. Lembrança é o que restou de Kevin e Carlos, os meninos de Ingrid Borges da Silva, 21 anos. Eles viveram por doze horas.
Pouco mais de um ano depois, lágrima é a resposta da mãe para dizer o que sentiu ao saber que as crianças morreram sem conseguirem vaga na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal. O pediatra falou que tentaram todas as partes que tinha UTI, mas não tinha vaga, rememora.
Após o parto, ela conta que viu seus filhos vivos por uma única vez. O encontro com Ingrid foi na aldeia terena Brejão, a 20 km de Nioaque. Lá, vive com os pais e a filha de três anos.
O marido mora em Maracaju, onde Ingrid estava no dia 23 de abril do ano passado, data de nascimento dos bebês. Sentia dor, não conseguia dormir e fui no hospital, conta.
Após o parto, foi informada de que os bebês não tinham o pulmões formados e precisariam ser transferidos para Campo Grande. Eles mediam 41 e 42 centímetros, com peso de 1,6 e 1,7 quilos. Na ocasião, a primeira tentativa de transferência foi frustrada por falta de leito. Na segunda vez, o pedido foi acatado, mas os meninos morreram no trajeto.
Internada por três dias, a mãe fez retardar o sepultamento dos filhos. Os meninos foram sepultados no cemitério da aldeia, lugar onde ainda não consegue ir. Se pensa em voltar a engravidar, um sorriso triste diz que mais filho está nos planos. Mas não agora.
As mortes dos bebês levaram o MPE (Ministério Público Estadual) a instaurar inquérito civil para melhorias para a saúde do município. Também foi aberta investigação na Polícia Civil.
Em Mato Grosso do Sul, só há UTI neonatal em Campo Grande e Dourados.
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