Publicado em 14/04/2015 às 15:12, Atualizado em 13/09/2024 às 19:19

Ocupada em virar polícia, Guarda Municipal deixa patrimônio público de lado

Enquanto corporação se arma e se ocupa do trânsito, bandidos invadem prédios públicos

Fagner de Olindo, Correio do Estado
funcionária do Posto de Saúde do Bairro Estrela do Sul mostra abertura na janela por onde bandidos entraram (Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado)

Enquanto a Guarda Municipal passa por reformulações para integrar o Sistema de Segurança da Capital, sua missão originária, de cuidar do patrimônio público, é deixada de lado diante do efetivo reduzido. Outro posto de saúde foi alvo de vandalismo e furto em Campo Grande. Esse é o segundo caso em menos de um mês na Capital.

Durante o fim de semana, ladrões invadiram a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Estrela do Sul. No dia 21 de março, a unidade de saúde do Parque do Sol também foi invadida e depredada. Atribuição da Guarda Municipal, o patrimônio público, em ambos os casos, estava abandonado, sem vigilância.

Instituída pela Lei nº 2.749, em 1990, a Guarda Municipal foi concebida para proteger patrimônio, bens, serviços e instalações públicas do Município. Mediante as duas ocorrências em menos de um mês, a Guarda contraria o artigo dois do Decreto Municipal 4.520/2007, que trata de sua regulamentação: “Compete à Guarda Municipal planejar, coordenar e desenvolver as seguintes atividades: I – proteger os bens, serviços e instalações do Município, visando prevenir a ocorrência de atos ilícitos, danos, vandalismo e sinistros, mediante vigilância”.

Usuários e funcionários da UBS do Estrela do Sul afirmam que desde o início do mês a unidade está em absoluto abandono em relação à vigilância. De acordo com a assistente de serviços de saúde Rosicleide Mariano, um Guarda Municipal vigiava o local há mais de 15 anos, mas deixou o posto sem advertência prévia.  Além dele, outros dois monitoravam a unidade, sendo um durante todo o dia e outro na escala de revezamento, à noite. “De dezembro para cá, a vigilância passou a ser dia sim, dia não, e no começo deste mês já não tínhamos mais a presença de nenhum Guarda”, conta a servidora.

Auxiliar de serviços gerais há três anos na UBS, Aline Teixeira foi a primeira a chegar no local, na manhã de ontem. Ela conta que se deparou com indícios da invasão, que ocorreu por meio de um ar-condicionado removido dos fundos da unidade, e logo deu a falta do botijão de gás, aparelho de micro-ondas, ventilador e até dos mantimentos que haviam na geladeira. “O local aqui já é perigoso, não há grades nas janelas, a falta de iluminação favorece a concentração de usuários de droga, e ainda tiraram o guarda municipal? É quase um convite aos ladrões”, contextualiza.

Contraponto

Em sua defesa, a Guarda Municipal diz que cerca de 200 homens e mulheres de seu efetivo são afastados de seus postos de trabalho todos os meses para fazer cursos de reciclagem e que nesses locais as rondas são a única forma de suprir a demanda por segurança. Com efetivo de 1.290 servidores e cerca de 400 prédios públicos para vigiar (Ceinf, UBS, UBSF, Policlínicas, Escolas, entre outros) em três períodos diários, a Guarda ainda ampliou suas atribuições em novembro do ano passado, estabelecendo um conflito de competência com a Policia Militar, passando a exercer atividades de segurança pública.

De lá para cá, o leque de atuação da Guarda amplia-se não só para além de suas atribuições, mas extrapola, também, suas possibilidades.

Divide-se entre a fiscalização do trânsito, com 80 guardas nas ruas de Campo Grande, segurança dos terminais de ônibus, patrulhamento ostensivo e a patrulha Maria da Penha, que atende crimes de violência contra a mulher.

Maior que a perna

Em contraponto ao “passo maior que a perna”, a assessoria de imprensa da Guarda Municipal alega que há quase seis anos, desde a formação da primeira turma de guardas municipais concursados, nunca houve capacitação dos agentes, e que é importante para a população que os guardas se reciclem. Para usar armas (letais e não letais), os guardas têm de passar por seleção e cursos que ocupam 476 horas de aulas.

Moradora da região há mais de 20 anos e usuária da Unidade Básica de Saúde, Edileusa Moreno diz que a falta de segurança no Estrela do Sul não é um problema exclusivo da UBS. “Aqui ao lado do posto tem uma praça que virou ponto de encontro para consumo de drogas e comércio de produtos roubados. Eu lembro que tinha guarda aqui, mas não sei onde está agora”, conta.