Publicado em 20/12/2013 às 07:41, Atualizado em 13/09/2024 às 19:15
O pedreiro Ângelo da Guarda Borges, de 58 anos, que manteve a esposa em cárcere privado durante 22 anos, e também mantinha os filhos de 15, 13, 11 e de 5 anos trancafiados em uma casa no Bairro Aero Rancho, já havia ameaçado familiares da esposa há 15 anos atrás, de acordo com a delegada Rosely Molina da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
Há depoimentos que ele fez ameaças armado aos parentes da mulher. O pai dela foi ouvido, disse que tinha conhecimento, mas tinham medo, diz a delegada Molina.
De acordo com a delegada, o pedreiro que responderá por sequestro, cárcere privado e ameaça, negou os fatos e contou que deixava os filhos trancados para preservá-los da violência da rua e que não virassem marginais.
Na residência não havia energia elétrica e a família fazia as necessidades fisiológicas em um buraco. O pedreiro foi preso por volta do meio-dia desta quarta (18) quando voltava para almoçar.
De acordo com a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), os filhos de 15, 13, 11 e de 5 anos também viviam trancados em casa, mesmo com os de 15 e 11 estarem na escola.
Ainda de acordo com a polícia, as crianças que não saíam do cárcere chegaram a ficar impressionadas por conta da cidade e dos prédios.
Vizinhos
Procurados pela reportagem vários vizinhos afirmaram que ouviam os gritos da mulher e sabiam que as crianças não podiam sair de casa, mas que não podiam fazer nada. A gente não podia se meter, uma vizinha disse.
Outra vizinha afirmou que sempre que podia tentava ajudar a mulher dando comida para ela e para as crianças, mas que a última briga foi causada justamente por isso. Eu dava pão para ela e as crianças comerem e o que sobrava eles guardavam. Mas no domingo o homem descobriu o pão e bateu nela. A gente sempre ouvia os gritos de socorro, conta.
Em outras vezes a vizinha ainda disse que a mulher ia até a casa dela, mas sempre quando o marido não estava, porque ela não podia conversar com ninguém. Uma vez ela me trouxe uma panela suja e me pediu arroz. Ela me disse que o marido tinha feito as compras bêbado e que ela não tinha o que pôr em casa, explica.
Ela também fala que as crianças nunca eram vistas na rua e que não conheciam coisas básicas, como suco de caixinha e iogurte. Eu trazia para eles e eles ficavam encantados, a gente passava pelo muro e sempre quando o marido não estava em casa.