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Empresário causou prejuízos de R$ 4 milhões em Bonito e usou até nome de Brad Pitt em golpes

Ex-proprietário da Agência AR está detido na Venezuela e polícia quer extraditá-lo 

Preso na Venezuela desde o dia 4, o empresário Alexandre Alex Rodrigues Furtado, 44 anos, é acusado de causar prejuízos no valor de R$ 4 milhões na cidade de Bonito. O ex-proprietário da Agência AR, do ramo turístico, lesou 47 pessoas. Os números repassados nesta quarta-feira, dia 10, pelo delegado Roberto Gurgel de Oliveira Filho podem ser maiores, pois as investigações ainda não terminaram. Por enquanto, Alex está indiciado pelos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, apropriação indébita, apropriação indébita previdenciária e sonegação de impostos. A Polícia Civil tenta agora extraditá-lo para Bonito para colocá-lo à disposição do Poder Judiciário. 

O delegado de Bonito concedeu entrevista coletiva na sede da Delegacia Geral de Polícia Civil (DGPC), em Campo Grande, para prestar esclarecimentos sobre o caso. Segundo ele, foram lesados clientes da agência, funcionários que ficaram sem os devidos pagamentos, fornecedores, atrativos turísticos, hotéis, a prefeitura da cidade, bancos e até três ex-esposas de Alex que foram ludibriadas. No caso dos atrativos turísticos, por exemplo, o empresário é acusado de não repassar a eles a parte que lhes cabia na venda dos pacotes. Em relação aos hotéis, ele não cumpriu contratos de arrendamentos. Para um dos estabelecimentos, ele deve R$ 400 mil. 

As ex-esposas são parte importante das investigações, pois o nome delas era usado nas transações de Alex. “Uma delas assinou um contrato achando ser parte nele, mas na verdade era fiadora”, contou o delegado esclarecendo que tão somente Alex é acusado pelos crimes e prejuízos causados em Bonito. As esposas são tratadas como vítimas. “Uma das mulheres recebeu uma herança de família (R$ 40 mil e dois terrenos) e investiu nos negócios de Alex. Perdeu tudo”, disse o delegado. Outra ex-mulher enfrenta ações de execução o que a impede de adquirir qualquer bem. 

Bom de lábia e decidido a diversificar suas atividades, Alex, segundo a polícia, tinha um conglomerado de empresas. Ele usava sete CNPJs diferentes. O empresário chegou a abrir uma locadora de automóveis. Quanto mais negócios, mais prejuízos ele causava a pessoas próximas e a terceiros. A polícia está em busca de bens adquiridos por Alex para leiloar e tentar minimizar as perdas das vítimas. A agência foi aberta em 2005. Os golpes teriam começado em 2007. Alex emitiu muitos cheques sem fundos e permaneceu na cidade até 2013 quando seguiu para Parati, no Rio de Janeiro. 

Vida no barco – Em Parati, Alex comprou um veleiro avaliado em R$ 200 mil, com o qual levava turistas para passear. Para a polícia, a atividade nada mais era do que uma lavagem de dinheiro. Pois o barco foi adquirido com recursos provenientes dos golpes que ele aplicou em Bonito e, agora, nesta atividade em Parati tentava legalizar este dinheiro. Neste período, as investigações policiais já estavam a todo vapor. Porém, Alex se recusava a colaborar. Não voltou a Bonito para prestar esclarecimentos quando foi chamado, segundo o delegado. Enquanto isso, várias vítimas continuavam comparecendo à delegacia o para reclamar dos prejuízos. Alex, apesar de não estar mais em Bonito, tomava à distância todas as decisões referentes à agência AR que hoje está fechada. 

“Os funcionários e esposas apenas executavam as ordens”, mencionou o delegado. Ainda em Parati, ele passou a escrever o livro “Velejando na gestão.” Na obra, ele fala sobre um episódio marcante para o turismo de Bonito: a misteriosa visita do ator norte-americano Brad Pitt a Bonito, no ano de 2009. 

Brad Pitt em Bonito – 

A suposta visita do ator ao município ganhou espaço na mídia nacional. Porém, as investigações apontam que o fato pode ter sido apenas plantado por Alex para dar visibilidade à agência de sua propriedade. “As pessoas passaram a telefonar para a agência AR para saber sobre a presença do artista no município”, relatou o delegado. Alex teria atendido uma dessas ligações e afirmado que tinha um contrato de sigilo e que não poderia repassar nenhuma informação. “Se você tem um contrato de sigilo, significa que a pessoa está lá”, observou o delegado. 

No capítulo do livro que trata do assunto, o empresário não confirma ter inventado a história, mas insinua que ela pode ter sido uma jogado de marketing. “No final do capítulo, o autor diz o seguinte: Se você quiser, eu faço um contrato de sigilo pra você”, relatou o delegado. “Não existe até hoje qualquer confirmação da visita do ator a Bonito”, acrescenta. 

O delegado descreveu Alex como uma pessoa egocêntrica e centralizadora. “Ele sempre se denominava empresário, escritor e palestrante, mas matinha empresas de fachada apenas para dar golpes”, define. Caça ao criminoso – Sabendo que estava sendo investigado e prestes e ser preso, Alex deixou Parati e seguiu para a cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, onde tem familiares. Em agosto, tomou voo da TAM para Caracas na Venezuela. Apesar dos mandados de prisão, ele conseguiu desembarcar em terras venezuelanas e seguiu para Puerto La Cruz, cidade que fica perto de Caracas, capital daquele País. 

A Polícia Civil de Bonito conseguiu a inclusão dele na Difusão Vermelha, da Interpol, que passou a procurá-lo. No final da tarde de 4 de setembro, ele foi preso por agentes na Interpol em um veleiro que ele adquiriu na Venezuela para morar. O barco é avaliado em R$ 400 mil. Alex está detido em Caracas. A ideia agora é extraditá-lo para Bonito. Documentos serão encaminhados ao Ministério da Justiça que fará o pedido de extradição às autoridades venezuelanas. Não há previsão de data para a extradição. 

O delegado admite o temor de perder o estelionatário. “Temos um receio muito grande dele escapar se conseguir uma liberdade provisória, por exemplo. Se isso acontecer podemos perdê-lo para sempre”, diz o delegado citando que Alex tem filho que mora na Espanha. Golpe histórico – Punir Alex é uma questão de honra para a cidade de Bonito que tem cerca de 17 mil habitantes e vive basicamente do turismo. “Prendendo-o vamos mostrar que este episódio é uma exceção e que o Turismo em Bonito é tratado com seriedade. 

O meu trabalho, por exemplo, é afetado quando o turismo cai, porque aumentam as ocorrências criminais”, disse o delegado. Ele mencionou ainda que a prisão de Alex só foi possível devido ao trabalho conjunto do Poder Judiciário, Polícia Civil, Polícia Federal e Interpol.

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