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Rejeitado por escola, criança autista perde ano letivo

Mãe teve matrícula negada por diretora e sofre com o desafio de readaptá-lo em uma nova escola 

(Foto: Victor Chileno )

“Eu quero que meu filho seja aceito e não tolerado”. A fala é de Naína Dibo Soares, de 33 anos, mãe de João Victor, de 6 anos, portador de Autismo, e que recentemente foi barrado de continuar estudando em uma escola particular da Capital. Motivada pela família, ela trouxe a história à tona pelo Facebook com o objetivo de garantir o direito da inclusão social de outras crianças com deficiência e dar coragem as mães que sofrem caladas diante da discriminação. Aos 2 anos de idade, João Victor foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Até então, não era possível identificar porque não havia qualquer característica física”, lembra a mãe que, naquela época, pouco conhecia sobre o Autismo. “Ele não falava muito e tinha obsessão por um carrinho de brinquedo”, conta Naína sobre os sinais que indicaram que o filho tinha o transtorno. 

A partir daí, começou a luta de Naína pela sociabilização de João Victor, um desafio para quem é mãe de filhos com autismo, já que o que chama mais atenção na criança autista é a dificuldade de interação com outras pessoas. A mãe decidiu matricular João em uma renomada escola particular da Capital onde ela esperava encontrar tudo que o filho precisava para se desenvolver.  “Todos foram muito acolhedores, professores, alunos e mães. Nunca tive qualquer problema”, diz Naína. 

Segundo ela, o processo de sociabilização estava indo muito bem e, neste ano, João Victor estava em seu melhor momento. “Foi o ano em que ele mais se desenvolveu socialmente, o melhor ano social para meu filho. Mais do que ele, todos na escola estavam sendo agraciados com a presença dele”, relata. Mas um episódio no início de setembro transformou a esperança de uma mãe em desespero. Ao ser chamada para uma reunião de pais, Naína conta que foi surpreendida pela diretora da escola que informou à mãe que não iria mais aceitar o João Victor na instituição a partir do próximo ano. “Ela simplesmente negou a matrícula para o meu filho. Disse que a Lei é só no papel, se mostrou totalmente adversa à inclusão, foi desumana. Ao receber aquela notícia, Naína lembra que ficou em estado de choque e perdeu a voz. “Não conseguia falar diante de tantos argumentos vazios. 

O problema é que ela não queria colocar um tutor para acompanhar o meu filho. Não queria ter gastos e é um direito dele. Eu não vi qualquer tipo de sensibilidade naquela mulher. Não quero que ninguém passe pelo que passei”, afirma. Naquele momento, ela lembra que, como a maioria das mães de filhos com deficiência, pensou em se calar. Mas motivada por familiares e amigos, ela levou o caso às redes sociais. Mais do que isso, Naína entrou com a denúncia junto ao Ministério Público do Estado em nome de todas as crianças com deficiência. “Não quero me beneficiar financeiramente com isso. Eu sempre dei o melhor para o meu filho, os melhores médicos e tratamentos. Faço o que posso para incluí-lo na sociedade. 

Só quero orientar as outras mães a lutarem pelos direitos dos filhos, que todos saibam que essas crianças têm direito a matricular-se em uma escola regular, que têm direito a um tutor, que ela simplesmente tem direitos”, expressa. Antes de encarar o preconceito da diretora, o único obstáculo enfrentado, segundo Naína, era em relação ao processo de ensino-aprendizagem. Embora o João Victor apresentasse melhoras na sociabilização, havia a preocupação com a alfabetização da criança já que a escola, assim como a maioria, não estava capacitada para receber um aluno com autismo. 

“Não havia tutor e eu sugeri contratar um profissional com dinheiro do meu próprio bolso. Estava disposta a fazer isso e nem exigir da escola”, diz Naína sobre o fato de a legislação garantir o direito à tutoria as crianças com deficiência matriculadas em escolas de ensino regular. Por dois meses, uma professora vinculada à ABA (Associação Brasileira de Autismo) e custeada pela mãe chegou a acompanhar João Victor na sala de aula. Mas logo a entrada da professora também foi impedida pela diretora que alegou que a profissional não fazia parte do quadro de funcionários e atrapalhava o andamento das aulas. Atualmente, João Victor está sem ir à escola e já perdeu o primeiro ano letivo.

Insegura com a postura discriminatória da diretora, a mãe afirma que não pretende voltar atrás e já faz planos de matriculá-lo na Escola Geraldo Castelo que, mesmo sendo da rede pública, oferece atendimento para alunos com autismo. “Eles abraçaram a causa do meu filho, mas sei que será um grande choque social e estrutural para ele. Sei que vou sofrer muito. Já chorei muito com tudo isso porque só eu sei o quanto será difícil essa nova adaptação. Ele estava se encaixando muito bem ao ambiente escolar que estava, aos amigos”, lamenta Naína que já recebeu o convite de outras escolas para matricular João.

 “Tenho recebido muito apoio, até mesmo de mães de outros países que estão expondo situações parecidas com a minha”, relata. “Muitas mães preferem não expor que seus filhos têm autismo por medo deles sofrerem preconceito. Mas eu quero que meu filho seja aceito como ele é. Infelizmente, a ignorância é a grande vilã da inclusão”, acredita Naína que, mesmo diante da repercussão do fato na rede social, não foi procurada pela diretora da antiga escola. A reportagem chegou a entrar duas vezes em contato com a instituição, mas foi informada de que a diretora estaria ocupada e retornaria a ligação, o que não ocorreu até o fechamento da matéria. 

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