O júri popular formado por cinco mulheres e sete homens considerou Beira-Mar, um dos líderes da principal facção de venda de drogas do Rio, culpado, mesmo não tendo agido diretamente na ação que matou Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, chefe de uma facção rival e que teve o corpo carbonizado, Carlos Alberto da Costa, o Robertinho do Adeus, Wanderlei Soares, o Orelha (estes dois, cunhados de Uê) e Elpídio Rodrigues Sabino, Pidi ou Robô.
A sentença foi confirmada pelo juiz Fábio Uchôa de Magalhães perto das 2h da madrugada desta quinta-feira.
O julgamento só não se prolongou por mais tempo porque nove das dez testemunhas não depuseram. Os agentes penitenciários arrolados pela promotoria não compareceram, de acordo com a promotora Fabíola Lima, por medo. Uma testemunha da defesa, um traficante que sobreviveu à chacina de 2002, está foragida. O único a depor foi o traficante Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, outro sobrevivente e que mesmo sendo de uma facção rival foi, de acordo com suas próprias palavras, salvo por Beira-Mar.
Para os parentes do condenado e estudantes de direito e advogados, que desde cedo fizeram fila na
porta do tribunal, o julgamento foi arrastado e com poucos momentos de intensidade, graças à confiança de Beira-Mar em se declarar inocente e da pouca efetividade dos dois membros do Ministério Público (além da promotora Fabíola Lima estava também o promotor Bráulio Gregório). Com discurso vazio, a promotoria demorou a convencer os jurados dizendo que até calado ele dá ordens, disse em um momento Fabíola Lima. Ele está sendo condenado mais por ser quem é do que pela denúncia, disse o advogado de Beira-Mar, José Maurício Neville de Castro Júnior.
Durante seu depoimento, Beira-Mar negou ser membro e muito menos líder da facção criminosa, ao lado de outro réu no mesmo caso, o traficante Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, também em presídio Federal. Quando o promotor Bráulio Gregório disse que um agente penitenciário disse em depoimento ter a impressão de que Fernandinho Beira-Mar era um dos líderes, o traficante rebateu: Posso achar que a Juliana Paes é linda, que a Thaís Araújo é linda e o senhor achar que não, disse, irônico.
Beira-Mar atacou o sistema e disse que é perseguido pela mídia e pelo governo. Segurança Pública dá voto e me deixar em presídio Federal, longe da minha família também dá voto, acusou, afirmando que até suas visitas íntimas no presídio Federal de Porto Velho são filmadas pelos policiais.
A defesa de Beira-Mar questionou o fato de um dos 25 envolvidos no inquérito, um agente de segurança que recebeu R$ 400 mil para facilitar a entrada de armas no presídio e que deu acesso aos presos às chaves dos pavilhões, não ter sido sequer denunciado pelo MP. A promotora rebateu e disse que foi a própria defesa de Beira-Mar que pediu que ele fosse julgado sozinho.
Para convencer os jurados, a promotoria mostrou uma suposta conversa de Beira-Mar com um homem que estaria sendo torturado por ser amante de uma ex-namorada sua. Na conversa o homem afirma ter tido a orelha cortada e estar com os dedos pendurados. Este caso ainda não entrou em julgamento. Em outro vídeo se reproduz uma conversa entre Beira-Mar e Marcinho VP no presídio de Catanduvas, no Paraná, onde o traficante ordenaria ataques à ONG AfroReggae, de José Júnior, rival do pastor Marcos, líder espiritual de uma igreja evangélica pentecostal, que foi acusado de estuprar fiéis.
Beira-Mar já tinha 133 anos de condenações a cumprir e desde 2012 está cumprindo pena no presídio Federal de Porto Velho, depois de a polícia ter descoberto um plano para tentar resgatá-lo do presídio federal de Catanduvas, no Paraná. Beira-Mar já está retornando em avião da Polícia Federal para Rondônia.
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