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Capital tem 911 edifícios, mas já começa a criar suas ilhas verticais

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Divulgação

“A legislação não está cuidando do olhar mais abrangente e determinando normas que impossibilitem a geração de Castelos e de Muralhas”. Castelos e Muralhas? Em Campo Grande? No ano de 2016? Pode parecer absurdo, mas a gente explica. A analogia feita pelo arquiteto, professor e pesquisador da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Ângelo Arruda, tem tudo a ver com a expansão da Capital sul-mato-grossense. Com 911 edifícios, a Capital engatinha na sua verticalidade, mas a questão principal é: para onde engatinha. A concentração de mega edifícios no entorno do Shopping e Parque das Nações, além do perigo de colocar, em um só lugar, os maiores prédios da cidade, mostra mais do que parece: uma cidade que cria ilhas medievais: lugares altos, fechados e desconectados do resto da cidade.

“Eu te dou um exemplo: tem um empreendimento, pra mim, excepcional, lá no Parque das Nações Indígenas, do lado da Cassems, um prédio branco, olhando pro Parque: ele tem recuo de 10 metros na lateral, ele tem vaga pra estacionamento na frente, ele tem calçada acessível, ele tem até a maquininha pra você pegar o plástico e pegar o cocô do cachorro. Ele é um empreendimento que caminha nessa direção que eu estou falando, mas, em volta, não tem comércio, não tem nada, porque essa categoria de população quer comprar algo um pouco mais afastado e quer ter a visão do Parque dos Poderes”, conta Ângelo.

À frente do “Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS”, o pesquisador tem uma nova empreitada à caminho: um mapa da densidade urbana da Capital, ou seja, onde e como estão morando as pessoas. O “Estudos de densidade, verticalidade e sustentabilidade”, ainda em desenvolvimento é o documento que traz, entre outras características, um novo olhar sobre os edifícios de Campo Grande.

Prédio onde, como e porquê

Os prédios, ainda que poucos, são um retrato de como a cidade se expande. A questão não está em quanto, e sim, em onde. É o que explica o professor. “O número de prédios em Campo Grande é muito pequeno. E eu vou dizer mais, são 911, mas esses 911… são 270 edifícios com mais de 6 pavimentos, isto numa história com mais de 100 anos. Então, o problema não é o número, não é a quantidade, é onde eles estão posicionados e quem é o entorno desse posicionamento”.

Para explicar a questão o professor contrapõe dois empreendimentos. Um deles, o conjunto de prédios pequenos, de apartamentos, entre a Rua Bahia e a Joaquim Murtinho. Em volta deles? ‘Densidade correta, abaixo de 300 habitantes por hectare, caminhabilidade em todo o entorno. Dá pra sair à pé, com serviços necessários para o funcionamento de uma família’. Uma vida social acontecendo ali, uma cidade que coloca os habitantes para a convivência. O outro: conjunto habitacional ao longo da Interlagos, na beira da Mata da Floresta: no entorno? Nada. Bom, ao menos nenhuma padaria, nenhum mercado, nenhuma feira: apenas uma longa avenida, com uma rotatória perigosa, que pode causar um estresse danado só na tentativa de um morador ao ir buscar um pão na padaria, nas palavras de Ângelo.

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