Publicado em 26/12/2017 às 10:00, Atualizado em 13/09/2024 às 19:36

Como agir quando a melancolia dá as caras nesta época do ano

Na contramão do clima festivo que pauta o réveillon, não são poucos os que se sentem deslocados

O Tempo,
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Divulgação

Diante da expectativa da virada da última folhinha do calendário 2017, o clima de festa, mais uma vez, toma conta das pessoas. Ou melhor, de algumas. Para outras, o período associado à finalização de um ciclo e começo de outro é marcado não pela alegria, mas por um sentimento de melancolia.

É o caso da diarista Ivone Rodrigues Santos, 42, que já manifesta esse incômodo no período pelo qual acabamos de passar, o natalino. “O que percebo é que muitos se endividam para procurar satisfazer algo em suas próprias vidas. Dá a entender que as pessoas são vazias e querem preencher (essas lacunas) com presentes, e não com a presença”, analisa.

De acordo com a psicóloga e sexóloga Sônia Eustáquia, essa sensação pode misturar-se também a sentimentos de tristeza e angústia – mas ela analisa que, em geral, esses quadros não caracterizam-se como patológicos.

“As causas podem ser inúmeras e muito subjetivas. No entanto, se começar a incomodar, a sugestão é que a pessoa procure ajuda profissional, principalmente se esse entristecer-se também se manifesta em outras ocasiões festivas. Na verdade, todos nós temos esses sentimentos em nosso interior. Eles estão em predisposição, e vão emergir de acordo com os estímulos externos”, afirma.

O psicoterapeuta Luciano Passianotto levanta que, nessa época, é de fato maior a procura de profissionais em busca de ajuda. Entretanto, ele frisa que não existe um perfil mais suscetível a sentir-se melancólico no final do ano. “Porém, pessoas que se cobram demais, têm dificuldade de gerenciar expectativas – ou criam expectativas muito altas e acabam não conseguindo executar – e têm dificuldade de lidar com as perdas, têm mais chances de se sentirem frustradas”, observa.

Para Passianotto, o fim do ano costuma ter também a característica de as pessoas buscarem se conectar, mas, em muitos casos, elas se sentem obrigadas – e essa tarefa se torna um fardo. Esse elemento de cobrança dirigido a pessoas e parentes com quem a pessoa não conversa, aliado ao momento propício e mais sensível, deixa essas pessoas incomodadas.

A operadora de caixa, Cristiane Paula, 30, é um exemplo. Ela diz sentir-se mais melancólica e até triste por problemas familiares. “Sinto-me triste por minha família ser tão desunida. Nesse ano, inclusive, nem sequer estou conversando com minha mãe”, conta.

O psicoterapeuta diz que algumas pessoas são duras consigo mesmas e acabam não vendo os momentos felizes. O resultado é que colocam todo o foco no que não conseguiram fazer, e isso pode aumentar esse sentimento melancólico. “É muito importante ter a consciência do motivo de a pessoa estar sentindo esse desconforto. O processo de psicoterapia ajuda a conseguir lidar e estabelecer estratégias para evitar que a melancolia tome conta, aprendendo a administrá-la”, ensina.

Estresse de ocasião também é detectado

A fadiga e o estresse não poupam ninguém. Quem foi às compras no início do mês certamente enfrentou situações que colocaram o espírito natalino à prova. Agora, a situação se repete com a chegada do réveillon e das férias. Quem viaja tem que encarar o trânsito, a maratona de arrumar as malas, aeroportos e rodoviárias lotados, além de enfrentar burocracia e alguns contratempos.

Segundo a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho, é nesse momento de correria, ao qual se soma o cansaço de um ano inteiro de atividades intensas, que o corpo pede socorro. Diante de tantos conflitos diários, ele pode sinalizar que precisa de cuidado, sossego. E, sim, é bom dar atenção aos sinais. “A tensão do fim do ano pode funcionar como a gota d'água de um processo de fadiga que se acumulou dia a dia, mês a mês. Os resultados, em geral, são sérias consequências para a saúde corporal”.

A psicanalista explica que a emoção que se aflora nessas datas, somada à correria para finalizar um ano e iniciar o outro sem nenhuma pendência, faz com que as doenças se manifestem com mais frequência. “É o que chamamos de estresse de ocasião. O nível de substâncias químicas no organismo, como a adrenalina, sobe mais e sobrecarrega o coração e o corpo como um todo”.