Buscar

Polícia Civil indicia tenente do Corpo de Bombeiros por tortura

Izadora Ledur Deschamps não vai responder por homicídio; inquérito será encaminhado ao Fórum

Cb image default

Reprodução/Montagem/A tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur de Souza

A tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur de Souza Dechamps foi indiciada pela Polícia Civil na tarde desta segunda-feira (20) pelo crime de tortura contra o aluno Rodrigo Claro, de 21 anos.

Rodrigo morreu em novembro do ano passado, cinco dias após ser internado depois de passar mal durante um treinamento em que sofreu uma sessão de caldos (afogamentos forçados)

A informação foi confirmada ao MidiaNews pela delegada Juliana Chiquito Palhares, da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).

Segundo ela, o inquérito policial foi finalizado e será entregue hoje (21), na 7ª Vara Criminal da Capital.

O documento não imputa à tenente a responsabilidade pela morte do aluno, mas diz que Rodrigo sofreu “intenso sofrimento físico e mental, mediante violência e grave ameaça, caracterizado pelos sucessivos ‘caldos’ e posturas coercitivas, como forma de lhe castigar pelo péssimo desempenho e pelo fato de ter apresentado atestados médicos em sua disciplina”, diz trecho do inquérito.

Cb image default

Rodrigo Claro, de 21 anos, morreu em novembro do ano passado, após passar por uma seção de afogamentos

Inquérito dos Bombeiros

O inquérito do Corpo de Bombeiros, que também apurou as circunstâncias da morte do aluno Rodrigo, sugeriu que Izadora Ledur não cometeu homicídio ou tentativa de homicídio.

O documento, contendo 11 páginas, foi finalizado no dia 2 de fevereiro e encaminhado à Corregedoria da corporação.

O relatório ainda afirma que a morte de Rodrigo, segundo o laudo de necropsia, foi causada por hemorragia cerebral. E que, por esta razão, ficaria comprovado que o aluno não morreu por afogamento, uma vez que “afogado não costuma apresentar sangramento cerebral”.

“Assim, pelas provas colhidas nos exames periciais, não foi possível comprovar o nexo causal entre a conduta da tenente Izadora Ledur de Souza Dechamps na instrução do dia 10/11/2016 e o resultado morte do aluno a soldado Rodrigo Patricio Lima Claro no dia 15/11/2016 às vinte e duas horas”, cita trecho do relatório.

De acordo com o coronel Júlio Rodrigues o inquérito policial militar foi conduzido com “absoluta isenção”.

“O laudo que foi apresentado pela Politec [Perícia Oficial de Identificação Técnica] e entregue ao encarregado do inquérito aponta hemorragia cerebral de causas naturais, portanto não há provas para ligar a conduta da agente ao resultado morte”, afirmou.

Relembre o caso

Rodrigo morreu no dia 15 de novembro, após supostamente passar por uma sessão de afogamento na Lagoa Trevisan.

Ele chegou a ser levado para o Hospital Jardim Cuiabá, na Capital, onde permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por cinco dias.

Em depoimento, colegas de curso de Rodrigo informaram que ele vinha sendo submetido a diversos "caldos" e que chegou a reclamar de dores de cabeça e exaustão.

Ainda assim, ele teria sido obrigado a continuar na aula pela tenente, que na época era responsável pelos treinamentos dos novos soldados da corporação.

A tenente foi afastada da corporação logo após a morte de Rodrigo. No entanto, segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cézar Rodrigues, esta não é a primeira vez que ela está sendo investigada por cometer excessos nos treinamentos.

Da primeira vez ela foi acusada - em uma denúncia anônima ao Ministério Público Estadual (MPE) - de fazer pressão psicológica em alunos durante os treinos do 15º curso de formação dos bombeiros.

“Na época designamos um encarregado e foi feita uma sindicância, onde não foi apurada esta conduta por parte da tenente. Não foi constatada transgressão nem crime por parte dela. O resultado foi encaminhado novamente para o MPE e o processo foi arquivado. Por isso ela não foi afastada de suas funções”, disse o comandante, em entrevista coletiva no ano passado.

Se ficar comprovado que a tenente foi responsável pela morte de Rodrigo, as penas podem variar de advertência até a prisão.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.