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Foragido há 7 meses, réu surge em audiência virtual e diz que matou por acidente

Alex Macedo confessa crime, mas diz que tiro que atingiu Wando Maximino Nunes na cabeça foi acidental.

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No telão, o foragido da Justiça e réu por homicídio, Alex Macedo, que participou virtualmente do júri. (Foto: Henrique Kawaminami)

Até poucas horas atrás, o auxiliar de serviços gerais Alex Alexandre Marques Moreno, 30 anos, estava em L.I.N.S, sigla para “Lugar Incerto e Não Sabido”, usada no jargão policial. Foragido da Justiça, resolveu aparecer, mesmo que por videoconferência, no Fórum de Campo Grande, onde está sendo julgado por homicídio qualificado, porte de arma e ocultação de cadáver.

Agora, a Justiça e a Polícia Militar têm ideia do paradeiro dele. Em diálogo durante o julgamento, com o juiz da 2ª Vara Tribunal do Juri, Aluizio Pereira dos Santos, disse que estava em uma chácara no Capão Seco, distrito de Sidrolândia.

Moreno cumpria pena na Colônia Penal Agrícola por tráfico de drogas, beneficiado com regime semiaberto. Hoje, na videoconferência, explicou que fugiu em janeiro de 2022 para escapar de outro julgamento: o do “Tribunal do Crime” do PCC (Primeiro Comando da Capital). Conta que chegou a ser levado para a cantoneira, o local denominado pela facção para as sessões de julgamento e tortura, mas conseguiu fugir. “Os irmãos do PCC estão me procurando por causa dessa morte”, contou.

A morte é de Wando Maximino Nunes, assassinado aos 17 anos, com um tiro na cabeça, na madrugada de 23 de setembro de 2018. O corpo dele foi encontrado naquele mesmo dia, de bruços, no leito do Córrego Lageado, próximo da BR-163, na área rural de Campo Grande.

Na denúncia apresentada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Wando estava com grupo de amigos na Rua Reverendo Martin Luther King, no Jardim Campo Alto, em Campo Grande: Lindomar Moreira dos Santos, 26 anos, Leandro Alves do Nascimento, 28 anos, e Luiz Junior Flores da Silva, o “Bruxo”, 39 anos.

Consta que Alex Macedo se aproximou, de carro, e atirou para o alto. Desceu e foi até o grupo, questionando: “Quem que tá pagando de ferro para mim aí?”, ou seja, quem estava armado. Todos negaram e disseram que o respeitavam. O réu mandou que eles levantassem a camisa e aí viu, no cós da bermuda de Wando uma pistola. Era simulacro, ou arma de brinquedo que, na perícia consta até a inscrição "Made in China"

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Local onde o corpo foi arrastado e jogado. (Foto/Reprodução)

Ainda conforme a denúncia, o réu chamou o adolescente para um canto e disse que queria “trocar uma ideia” e chegou a retirar o carregador da própria pistola. Porém, em seguida, quando o garoto estava de costas, carregou a pistola e atirou na cabeça de Wando. Depois, sob ameaça, mandou que o corpo fosse retirado do local.

Julgamento - “Atirei, atirei no menino”, confessou o réu, no julgamento, hoje, mas negando que tenha sido tiro proposital. Na versão apresentada por ele, Wando sacou a pistola e, para se defender, segurou a mão do adolescente e bateu de lado na cabeça dele, momento que acabou disparando e atingindo a vítima.

“Mas não tinha intenção”, diz Macedo. Segundo ele, o objetivo era dar coronhada na cabeça de Wando. “Eu nem sabia mexer com essa pistola”, justificou, acrescentando que gesto do adolescente, ao erguer a mão para se defender é que acabou disparando a arma.

Macedo diz que passou a andar armado quando passou para liberdade condicional, pois estava jurado de morte e que “os caras já tinham me dado tiro”, sem esclarecer quem são essas pessoas. Porém, nega que sejam do PCC. “Só tive problema com PCC depois dessa morte”.

Após matar o adolescente, diz que foi embora. Na denúncia do MPMS, consta que ele teria obrigado os outros três a levar o cadáver para lugar ermo.

Pela ocultação do cadáver que o banco dos réus está ocupado, presencialmente, pelos outros dois acusados: Lindomar Moreira dos Santos e Leandro Alves do Nascimento, amigos de Wando e denunciados por ocultação de cadáver. Para o terceiro, Luiz Junior Flores da Silva, também acusado pelo mesmo crime, o processo foi desmembrado, já que ele está foragido e o julgamento ainda será marcado.

O promotor Bolívar Luis da Costa Vieira também interrogou Macedo.  Perguntou se ele sabia que a arma que estava com Wando era apenas um simulacro, mas o réu ficou quieto. Também questionou como daria a coronhada, se pouco antes o rapaz estava de frente para ele. O acusado disse que a arma bateu de lado.

Após o interrogatório, o juiz pediu que ele aguardasse até o fim do julgamento, pois as informações sobre o paradeiro dele foram repassadas para “ver se a polícia cumpre esse mandado de prisão”. Macedo permaneceu quieto e, pouco depois, a imagem sumiu. Em seguida, Aluizio Pereira declarou oficialmente que ele fugiu de novo. "Declaro a revelia dele", disse. 

Outros réus – Lindomar Moreira disse que estava com Wando e os outros amigos usando drogas e viu quando o rapaz foi morto.

No depoimento prestado no júri, diz que somente levou o corpo de Wando por medo das ameaças de Alex Macedo. “Nós tirou de lá, nós só fez o que ele pediu, nós não sabia se ele ia matar nós ou não. Ele estava armado mostrou que tinha mais bala, ameaçando que era pra gente”. Segundo ele, o executor seguiu o carro deles até trecho para ter certeza que eles cumpririam a ordem.

O juiz perguntou porque, depois que não viram mais Alex, não procuraram a polícia. "Foi o medo, depois vai saber o que acontece?", justificou Lindomar.

Leandro Nascimento negou que tivesse visto a morte de Wando ou que teve qualquer participação. "Estava dentro de terreno do lado da minha casa, não vi nada". O juiz perguntou sobre o carro que estava com ele e foi usado para levar o corpo. "Quando escutei o primeiro tiro eu saí correndo".

O veículo, segundo ele, era emprestado e estava com a chave na ignição. "Fiquei nesse terreno e escutei um segundo tiro, depois de uma meia hora, o carro estava ali de novo, peguei, vi sangue e lavei os tapetes". O promotor contestou, falou que o depoimento dele à polícia foi "muito diferente do que está dizendo hoje". 

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