Publicado em 02/10/2019 às 13:30, Atualizado em 13/09/2024 às 19:39

Milícia executou próprios integrantes e com requintes de crueldade

Um dos envolvidos em execução foi "apagado" pelo grupo de extermínio e teve as pernas mutiladas

Campo Grande News,
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(Foto: Arquivo/Campo Grande News)

“Quem não silencia, é silenciado”. A máxima citada quando o assunto é o famoso código de silêncio das máfias, resume um pouco o teor dos autos da Operação Omertá. Basta ler as conclusões do trabalho investigativo sobre o grupo de extermínio, para observar que o medo é presente o tempo todo, não só pelos alvos, mas entre os integrantes da milícia armada, à qual são atribuídos pelo menos oito execuções nos últimos 10 anos. A forma como o grupo agia explica um pouco tamanho terror.

Entre as mortes dentro da própria quadrilha, uma é na vida real comparável ao que foi no cinema a cabeça de cavalo deixada na cama de personagem de “O Poderoso Chefão”, filme sobre a máfia italiana mais cultuado de todos os tempos. Em agosto de 2013, Rafael Leonardo dos Santos, de 29 anos, contratado para pilotar motocicleta na qual o pistoleiro José Moreira Freires atirou e matou o delegado aposentado Paulo Magalhães, foi assassinado e teve o corpo mutilado. Cortaram as pernas e a cabeça e abandonaram só o tronco, carbonizado, no lixão de Campo Grande.

Foi queima de arquivo, apontaram as investigações da época. Mas para os responsáveis pela Operação Omertá, foi também um recado para demonstrar os riscos a quem quebra a lei do silêncio imposta aos integrantes do grupo de extermínio. A apuração indica que Rafael, o mais jovem dos três envolvidos no crime, era considerado o “elo” mais fraco, além de ter cometido o erro de comprar, logo depois do crime, veículo de valor acima de sua capacidade financeira aparente.

Outra prova da extrema violência aplicada aos desafetos e ex-funcionários, argumenta o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) no pedido de prisão de 23 pessoas feito à Justiça, estava junto com o arsenal apreendido em maio deste ano, com o ex-guarda municipal Marcelo Risos. Foi encontrado também um arreiador de gado, instrumento originalmente usado na pecuária, para aplicar choques elétricos no gado. Nas mãos dos integrantes da milícia, diz a investigação, o equipamento virava instrumento de tortura.

Também foram localizados dois instrumentos do tipo na casa de José Moreira Freires, indicado junto com Juanil Miranda Lima, como os responsáveis pelo objetivo final da milícia, executar os inimigos da família Name, considerada comandante da organização.

Clima de medo – Não apenas a quebra do silêncio era encarada como risco de vida, observa material levantado. Trechos do texto de mais de 1.300 páginas, que baseia os pedidos de prisão dos envolvidos, deixam claro: havia muito medo de errar e, quando isso aconteceu, o sentimento virou pavor.