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Articulador discreto, Temer domina engrenagens do Congresso Nacional

Substituto de Dilma preside a máquina partidária do PMDB há 15 anos.Vice-presidente rompeu oficialmente com governo do PT no fim de março.

Dilma Rousseff recebe a faixa de presidente, em janeiro de 2015, ao lado do vice-presidente Michel Temer durante a cerimônia de posse no Palácio do Planalto, em Brasília (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Caçula de oito filhos de uma família de imigrantes libaneses, Michel Miguel Elias Temer Lulia, 75 anos, chega ao comando do Palácio do Planalto no clímax de uma carreira política de 35 anos pavimentada na máquina partidária peemedebista.

Substituto de Dilma Rousseff durante o período de afastamento da presidente, o vice é reconhecido, por aliados e adversários, como um articulador político de bastidores que domina as engrenagens do Congresso Nacional e da federação de interesses regionais do PMDB.

Presidente nacional do partido há 15 anos, o jurista Michel Temer se elegeu vice-presidente da República, pela primeira vez, em 2010, ao lado de Dilma. À época, além de comandar o PMDB, ele presidia a Câmara dos Deputados, pela terceira vez em 13 anos.

Respaldado pelo poder que acumulava no Legislativo e na cúpula partidária, Temer impôs ao PT o próprio nome para a vaga de vice como condição para o PMDB apoiar a candidatura da afilhada política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Inicialmente, Lula resistiu e tentou obter uma lista tríplice de peemedebistas para escolher quem entraria na corrida eleitoral ao lado da candidata. Temer negou.

Embora exibisse significativa força política como presidente do maior partido do país e da Câmara dos Deputados, Michel Temer vinha de uma eleição apertada para o parlamento.

Em 2006, ao se reeleger para o quarto mandato consecutivo de deputado federal por São Paulo, não conseguiu contar apenas com os próprios votos para se manter no Legislativo.

Na ocasião, obteve 99.046 votos, menos da metade dos 252.229 votos que somou na eleição de 2002. Mas mesmo com a significativa queda de rendimento nas urnas, o peemedebista conseguiu se reeleger puxado pelo conjunto dos votos dos demais integrantes da coligação do PMDB.

Apesar do receio que tinha em relação ao perfil de Temer, Lula não podia abrir mão do tempo de rádio e TV dos peemedebistas na eleição em que tentaria fazer a ex-ministra da Casa Civil sua sucessora no Palácio do Planalto. Além disso, ele sabia que Dilma precisaria do apoio do PMDB no Congresso Nacional para garantir a governabilidade.

Com a bênção de Lula, o casamento político entre Dilma e Temer foi consumado. A aliança acabou bem sucedida nas urnas, com a dupla derrotando José Serra (PSDB-SP) no segundo turno da eleição de 2010.

No primeiro mandato de Dilma, Temer teve um papel discreto. Fez questão de manter uma relação protocolar com a chefe do Executivo, sempre chamando-a de “senhora presidente”.

Nas ocasiões em que substituiu a petista na Presidência por motivos de viagens, fazia questão de despachar do próprio gabinete, no anexo do Palácio do Planalto, onde fica a estrutura da Vice-Presidência.

No anexo, Temer passou os primeiros quatro anos de mandato recebendo uma romaria de peemedebistas insatisfeitos com o dote que o partido havia recebido na Esplanada dos Ministérios – a legenda ocupou cinco pastas no primeiro mandato de Dilma – e com o suposta exclusão do PMDB nas decisões do governo.

À época, ele ouvia atentamente a todas as queixas dos colegas de partido, mas nunca esboçava qualquer intenção de deflagrar um motim contra a presidente.

Reeleição e rompimentoEm 2014, o casamento político de Dilma e Temer foi reeditado. E ao final de uma campanha presidencial intensamente disputada e agressiva, os dois se reelegeram no segundo turno, derrotando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) por uma diferença de cerca de 3,4 milhões de votos.

Na segunda fase do governo Dilma, em meio aos apuros da presidente com a Câmara dos Deputados presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Temer foi convidado, em abril do ano passado, a assumir a articulação política do Planalto.

Ele deixou o papel de vice figurativo e entrou oficialmente nas negociações de cargos e emendas com o varejo do Legislativo, apoiado pelo então ministro da Aviação, Eliseu Padilha, um especialista no mapeamento de intenções de voto na Câmara.

Entre derrotas, vitórias e “pautas-bomba” no Congresso, a dupla Temer-Padilha conseguiu aprovar a base do pacote de meta fiscal do então ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Porém, quatro meses depois de se tornar o articulador político do governo, Temer abandonou o posto, reclamando de ter sido sabotado por ministros petistas nas negociações com deputados e senadores.

(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Dali em diante, a relação com Dilma, que era protocolar, se tornou ainda mais distante e fria.

Em 7 de dezembro, cinco dias após Eduardo Cunha ter acolhido o pedido de impeachment da presidente da República, Temer surpreendeu o país com uma carta enviada a Dilma na qual se ressentia do tratamento que havia recebido ao longo dos cinco anos de governo e reclamando, inclusive, de uma suposta tentativa de desvalorizá-lo, por meio da demissão de aliados próximos.

O episódio azedou de vez a relação entre Dilma e Temer. No final de março, com o aval e a articulação do vice-presidente da República, o PMDB aprovou, por unanimidade, o rompimento com o governo federal, oficializando o divórcio político.

A saída oficial do PMDB, principal sócio do PT no governo, escancarou a guerra política entre os dois partidos.

Michel Temer, então, saiu em busca de votos favoráveis ao impeachment e conseguiu atrair para o seu flanco os principais partidos da oposição e ainda as legendas do chamado centrão, que, até então, ainda se mantinham na frágil base aliada de Dilma.

Na tentativa de neutralizar o novo adversário político, a presidente passou a acusá-lo, no Brasil e no exterior, de golpista e traidor.

Temer evitou o confronto público, mas manteve as articulações de bastidores para assegurar a instauração do impeachment.

Transformado em bunker político do vice, o Palácio do Jaburu se tornou ponto de procissão de adversários de Dilma e de políticos cotados para integrar o ministério de Temer.

Lava JatoA operação que investiga o esquema de corrupção que atuava na Petrobras também bateu às portas de Michel Temer.

Em sua delação premiada, o ex-líder do governo e senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS) relatou ao Ministério Público o suposto envolvimento de Temer em um esquema de compra superfaturada de etanol na BR Distribuidora, subsidiária de combustíveis da estatal do petróleo.

De acordo com Delcídio, as supostas irregularidades teriam ocorrido entre 1997 e 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ainda segundo o senador cassado, o operador do esquema seria João Augusto Rezende Henriques, ex-diretor da BR Distribuidora que fez, em 2011, depósitos apontados pela Lava Jato como propina para o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.Delcídio afirmou aos procuradores da República que Henriques havia sido “apadrinhado por Temer no esquema de compra ilícita de etanol que teria ocorrido durante a gestão FHC.

À época em que a denúncia do ex-líder do governo veio à tona, Temer afirmou, por meio de nota, que refutava as “insinuações” de Delcídio. 

Não conhecia Henriques e não o poderia ter indicado. Muito menos, ter participado de suposto esquema do etanol, do qual só tomo ciência agora. Reitero que o conheci anos depois. Mantive com ele alguns poucos contatos. Repito, portanto, que jamais o apadrinhei e ele jamais solicitou esse apadrinhamento”, escreveu Temer na ocasião em um comunicado divulgado à imprensa.

Em abril, o ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, autorizou, a pedido da Procuradoria Geral da República, a inclusão, no maior inquérito em tramitação na Corte para investigar o esquema de corrupção que agia na Petrobras, os trechos da delação premiada de Delcídio nos quais Michel Temer é citado.

A inclusão desse trecho no processo não torna Temer investigado no caso, mas acrescenta informações no inquérito destinado a revelar como funcionava a organização criminosa que desviava recursos da Petrobras em benefício de partidos e políticos.

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