Às vésperas de completar um quarto de século na democracia, o horário gratuito de rádio e televisão virou uma potente arma de duplo efeito: é a ferramenta que garante espaço para todos os partidos e, ao mesmo tempo, um balcão de negócios com prateleiras onde cabem tanto a republicana busca de espaço no poder quanto acordos suspeitos.
O tempo e não programa ou ideologia se firmou no processo eleitoral como o grande alvo dos grandes partidos, que travam suas negociações sob o olhar contemplativo dos órgãos públicos que deveriam fiscalizar as alianças para inibir a corrupção.
A justiça eleitoral não está aparelhada para fazer uma análise efetiva dos gastos de campanha. Por essa razão, os escândalos aparecem sempre pela denúncia de quem participou de algum esquema, diz o cientista político e professor de comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo Roberto Figueira Leal.
O roteiro de escândalos nacionais sugere, segundo ele, que além do fisiologismo, o horário gratuito pode, sim, alimentar a corrupção através da entrega de mais tempo no rádio e na televisão aos partidos mais expressivos. Os casos mais famosos são os que derrubaram o ex-presidente Fernando Collor de Mello primeiro a utilizar legendas aluguel para produzir sofisticados programas eleitorais e, mais tarde, o que ficou conhecido como mensalão, no governo do PT.
Os dois casos têm na origem a frenética busca por tempo com apoio de partidos sem qualquer identidade programática ou ideológica e, depois, já na formação da base de apoio congressual, a distribuição das suposta sobras de campanha camufladas no famoso caixa dois. Os acordos passam pelo mecanismo do financiamento privado e pelo abuso do poder econômico, aponta Figueira Leal. O tempo para propaganda foi o embrião dos esquemas de corrupção.
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