Publicado em 29/05/2017 às 14:25, Atualizado em 13/09/2024 às 19:35

Novo teste detecta HIV 'escondido' no corpo de forma mais rápida e barata

Técnica, chamada TZA, foi criada por universidade americana e ajuda na busca pela cura

O Globo,
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Divulgação

Cientistas da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, anunciaram nesta segunda-feira, na "Nature Medicine", que criaram um teste sensível o suficiente para detectar o HIV "oculto". Ele é ainda mais rápido, menos trabalhoso e mais barato do que o atual teste chamado de "padrão-ouro", o mais eficiente que existia até então.

Este é considerado um grande avanço porque um dos principais entraves para determinar se alguém está de fato curado do HIV é ter a certeza de que os "reservatórios latentes" do vírus foram eliminados. Mesmo com as melhores drogas antirretrovirais, praticamente todos os pacientes continuam com o vírus escondido no organismo, isto é, ele fica negativado, mas ainda presente. Apenas uma pessoa, conhecida como "o paciente de Berlim", foi oficialmente curada do HIV — este paciente está há quase uma década sem tomar antirretrovirais e até hoje o vírus não voltou a se manifestar (saiba mais abaixo).

— Globalmente, há esforços substanciais para curar as pessoas de HIV, encontrando maneiras de erradicar esse reservatório latente de vírus que teimosamente persiste em pacientes, apesar de nossas melhores terapias — disse o autor sênior da pesquisa, Phalguni Gupta, professor e vice-presidente do Departamento de Saúde Pública e Doenças Infecciosas e Microbiologia da universidade. — Mas esses esforços não vão progredir se não tivermos testes que sejam sensíveis e práticos o suficiente para dizer aos médicos se alguém está realmente curado.

O novo teste de Pittsburgh revelou que a quantidade de vírus latente em pessoas que parecem estar quase curadas do HIV é cerca de 70 vezes maior do que as estimativas anteriores.

O HIV se espalha porque infecta as células T CD4+, que são um tipo de glóbulo branco que desempenha um papel importante na proteção do corpo contra infecções. As terapias antirretrovirais para tratar esse vírus avançaram ao ponto de as pessoas com HIV poderem ter o vírus tão bem controlado que chegam a ter apenas um microrganismo infeccioso por cada milhão de células T CD4+.

Enqiuanto o paciente está tomando antirretrovirais, é importante determinar se o DNA do HIV detectado em testes ainda é capaz de replicar e criar mais vírus, fazendo com que a pessoa caia doente se interromper a medicação.

Até hoje, o melhor teste disponível para fazer isso é chamado de "ensaio de quantitativa viral", ou Q-VOA, na sigla da terminologia em inglês. Este teste tem muitas desvantagens: pode fornecer apenas uma estimativa mínima do tamanho do reservatório de HIV latente, requer um grande volume de sangue, é trabalhoso, demorado e caro.

Já o teste desenvolvido pela equipe de Pittsburgh, batizado de TZA, funciona por meio da detecção de um gene que é ativado apenas quando a replicação do HIV está presente, marcando assim o vírus para os técnicos quantificarem. O teste TZA produz resultados em uma semana, metade do tempo necessário para o Q-VOA, e custa um terço do preço do seu antecessor. Também requer um volume de sangue muito menor e é menos trabalhoso.

— Usando este teste, nós demostraramos que pacientes assintomáticos na terapia antirretroviral carregam um reservatório muito maior de HIV do que estimativas precedentes: até 70 vezes mais do que o teste Q-VOA detectava — contou o pesquisador Phalguni Gupta. — Como esses testes têm maneiras diferentes de medir o HIV capaz de replicar, é provávelmente benéfico ter ambos os testes disponíveis para os cientistas que estudam no esforço de encontrar uma cura.

Devido à sua baixa necessidade de células, o TZA também pode ser útil para a quantificação do HIV em crianças, bem como nos linfonodos e outros tecidos delicados onde o vírus persiste.