Em meio a um cenário de desaprovação crescente e desconfiança popular, o governo Lula resolveu apostar em um caminho conhecido — mas nem sempre eficaz: a propaganda institucional em horário nobre. Com um custo estimado em R$ 50 milhões, a nova campanha “Brasil dos Brasileiros”, lançada com pompa durante o intervalo do Jornal Nacional, tenta passar a imagem de um país que "está dando a volta por cima" — mesmo quando boa parte da população sente exatamente o contrário.
Idealizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) e capitaneada pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, a iniciativa surge no rastro de uma pesquisa Genial/Quaest que aponta desaprovação de 56% ao governo. Em vez de enfrentar os dados de frente, o Planalto preferiu pintar um retrato otimista, embalado por frases genéricas, trilha sonora emocional e uma estética que beira a propaganda eleitoral disfarçada.
O vídeo inaugural aposta em histórias edificantes de superação, menções a indicadores positivos — como o "menor desemprego da história" — e relatos de brasileiros que teriam deixado o Bolsa Família para alcançar autonomia financeira. A mensagem central, repetida com ênfase, tenta apropriar-se de um sentimento nacional: “O Brasil é seu, é meu, é nosso. O Brasil é dos brasileiros.”
Mas a estratégia levanta críticas legítimas: em vez de responder aos desafios concretos enfrentados pela população — saúde precária, insegurança, crise na educação, alta carga tributária — o governo parece optar por vender uma narrativa. Como se o descontentamento popular fosse fruto de “má comunicação”, e não reflexo de políticas públicas ineficazes ou prioridades distorcidas.
A escolha do slogan, inclusive, parece querer disputar simbolicamente com o discurso nacionalista da direita, como o de Donald Trump ou o de adversários internos. A diferença é que, nesse caso, a tentativa de resgatar o sentimento de pertencimento nacional vem acompanhada de um gasto milionário e um desconfortável afastamento da realidade cotidiana dos brasileiros.
Nos próximos dias, novas peças exaltando programas como Pé-de-Meia, Farmácia Popular e o novo PAC devem tomar conta das emissoras. Todas pensadas para viralizar — vídeos curtos, com mensagens simples, emocionais e descartáveis.
O que se vê, no fundo, é um governo cada vez mais preocupado com sua imagem do que com suas entregas. Ao investir pesado em marketing de campanha no meio do mandato, o Palácio do Planalto ensaia um discurso triunfalista que soa artificial — e perigoso.
A pergunta que fica é direta: quantos leitos hospitalares, escolas reestruturadas ou remédios na prateleira poderiam ser financiados com esses R$ 50 milhões? Em vez de tentar convencer o brasileiro de que tudo está melhorando, talvez fosse mais honesto e eficaz começar a resolver o que ainda vai mal.
Porque, no fim das contas, não é a publicidade que convence. É a realidade.
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