Após denúncias feitas pela imprensa (Jornal Midiamax) sobre o pagamento de diárias a bombeiros militares que não chegaram a se deslocar para as missões de combate aos incêndios florestais no Pantanal, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul confirmou, por meio de nota oficial, que os valores serão devolvidos ou cancelados. Em apenas 30 dias, foram pagos R$ 870 mil a 174 bombeiros convocados para atuar em sete cidades do Estado, em ciclos operacionais de 15 dias, com valor individual de R$ 5 mil por militar.
As verbas têm origem estadual e foram empenhadas em dois ciclos: o primeiro de 6 a 23 de maio, e o segundo de 20 de maio a 6 de junho. Contudo, conforme apuração jornalística, ao menos três bombeiras listadas como convocadas para o município de Corumbá não chegaram a embarcar, permanecendo na Capital durante todo o período.
Governo reconhece alteração no planejamento
Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) informou que houve uma redução na presença de militares no Pantanal devido a mudanças no planejamento operacional. Parte do efetivo retornou à Capital para atuar em outras operações. Segundo a corporação, os trâmites para devolução ou cancelamento das diárias já estão em andamento.
“Com ajuste fruto da demanda de trabalho, já foram feitos os trâmites para devolução e/ou cancelamento”, afirmou o Governo.
Ainda segundo a nota, a Operação Pantanal segue como uma ação permanente de combate a incêndios em áreas urbanas e rurais, com realocação constante de equipes conforme a demanda em cada região. O Governo também destacou que, devido às cheias em determinadas áreas, algumas bases previstas não puderam ser ocupadas, o que exigiu remanejamento dos militares.
Bombeiras teriam permanecido em Campo Grande
As bombeiras Daniela, Sinaya e Samya, todas lotadas em Campo Grande, constam na lista de convocados para Corumbá no ciclo de 20 de maio a 6 de junho. No entanto, imagens e relatos indicam que elas continuaram atuando na Capital, exercendo atividades administrativas ou atendendo ocorrências locais.
A bombeira Samya foi vista no quartel do bairro Costa e Silva no dia 26 de maio. Já Sinaya atuava combatendo um incêndio em um terreno na Avenida Gury Marques, enquanto Daniela foi localizada na base do Parque das Nações Indígenas.
Cada uma das militares receberia R$ 5 mil pelas diárias do ciclo, mesmo sem se deslocar à cidade de destino. O valor das diárias segue o estipulado no Anexo I do Decreto nº 16.536, de 26 de dezembro de 2024, que fixa o valor em R$ 300 por dia de missão.
Denúncia formalizada no MPMS
A situação levou ao registro de uma denúncia no Ministério Público Estadual (MPMS) no dia 25 de maio. A denúncia relata que parte dos militares convocados para Corumbá não viajou e continuou desempenhando atividades administrativas em Campo Grande, enquanto ainda recebiam diárias. O documento também aponta favorecimento de determinadas militares por parte do alto comando da corporação, e critica a distribuição desigual dos esforços entre os bombeiros.
“A CB Samya trabalha no Gabinete do Comandante-Geral, como assessora de redes sociais, devido a isso tem todos os privilégios e regalias [...] recebendo diárias sem se deslocar”, afirma trecho da denúncia.
Cancelamento das diárias e desmobilização
Após as denúncias virem a público, o comando da corporação determinou a desmobilização de todas as GCIFs (Guarnições de Combate a Incêndio Florestal) regionais a partir do dia 28 de maio. Ainda segundo informações internas obtidas pela imprensa, o processo de cancelamento das diárias teve início no dia 29 de maio.
O ciclo de 20 de maio a 6 de junho previa a atuação de 100 militares em cidades como Corumbá, Bonito, Costa Rica, Nova Casa Verde, Bela Vista, Cassilândia e Porto Murtinho. Deste total, 84 bombeiros sairiam de Campo Grande com destino a Corumbá.
A previsão de gastos com esse ciclo seria de R$ 500 mil.
Transparência e responsabilização
A repercussão do caso levantou debates sobre a fiscalização na destinação dos recursos públicos e a transparência na convocação e remuneração dos servidores em missões especiais. O Governo afirmou que todos os procedimentos estão sendo regularizados conforme prevê a regulamentação vigente, e reforçou que o uso dos recursos será feito de forma racional, especialmente diante das condições climáticas mais favoráveis neste ano.
O Ministério Público ainda não se manifestou oficialmente sobre o andamento da apuração.
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