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Em depoimento, assassino diz que agressão foi estopim para matar mulher e filha

Acusado de duplo feminicídio, João Augusto Borges passou por audiência de instrução nesta terça.

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Divulgação

Autor do duplo feminicídio que vitimou  a esposa Vanessa Eugênia Medeiros, 23, e a filha Sophie Eugênia, de 10 meses, em maio deste ano, João Augusto Borges, disse em audiência na tarde desta terça-feira (12) que ambos os crimes foram comentidos após um acesso de raiva contra a mulher. 

Durante a oitiva, o réu disse não possuir problemas mentais e assumiu "perder  “perdeu a cabeça" após um tapa de Vanessa.

“Não tenho nenhum problema mental. Ela (Vanessa) me deu o tapa e eu perdi a cabeça”, declarou João, alegando que o tapa ocorreu quando tentou se despedir da vítima com um beijo antes de voltar ao trabalho.

Durante o interrogatório, o homem de 25 anos admitiu já ter pensado em matar a companheira em outraos momentos e confirmou a premeditação dos crimes. “Tinha pensado, mas não queria colocar em prática. Eu tava me segurando, mas o tapa foi a faísca”, disse. Segundo ele, o tapa apenas desencadeou a ação, que vitimou sua filha, algo que ele disse não querer fazer.

“Não tive controle, eu não queria matar ela, eu queria cuidar, mas eu não conseguia enxergar com amor”, disse. Ao contrário do que disse em depoimento à polícia em maio, negou que a motivação dos crimes tenha sido  para evitar o pagamento de pensão à filha. 

Na ocasião, pediu perdão e disse não se lembrar de ter matado a filha. “Quero pedir perdão a Deus, a família dela, a minha família, era a única e primeira neta de sangue, desculpa", afirmou.

Os lados

Advogado da família, Lucas Brandolis, avaliou a audiência como positiva, destacando que as testemunhas confirmaram a premeditação e a personalidade violenta do réu.

“Os familiares estão consternados por ouvirem todos os detalhes dos feminicídios, além da frieza de João ao contá-los. O interrogatório revelou que ele busca redução de pena ao tentar demonstrar arrependimento e afastar o motivo torpe ligado à pensão alimentícia, mas as alegações não resistem às provas e à versão apresentada em delegacia”, disse ao Correio do Estado. 

Brandolis lembrou que o réu optou por permanecer em silêncio diante das perguntas do Ministério Público e do assistente de acusação. “Aguardamos com tranquilidade a pronúncia do réu para que seja levado a julgamento pelo Tribunal do Júri e, finalmente, condenado por todos os crimes imputados na denúncia”, concluiu.

Já a advogada de defesa de João, Maryane Cruz, disse que a audiência foi tranquila, e que apesar de orientado a permanecer em silêncio, o réu optou por falar. “Foram ouvidas testemunhas e, apesar de ter sido orientado a ficar em silêncio, João Augusto relatou sobre o crime, respondendo somente às perguntas do juiz e da defesa.”

O crime

O caso ocorreu na tarde de 26 de maio deste ano, por volta das 16h. João chamou Vanessa para o quarto sob o pretexto de conversar e a atacou com um golpe de “mata-leão”, causando seu estrangulamento. Logo depois, estrangulou a filha, que brincava na cama do casal.

Após o crime, saiu para trabalhar normalmente. Mais tarde, às 21h, comprou um galão e o abasteceu com R$ 16 de gasolina. Voltando para casa, enrolou os corpos em dois cobertores e os colocou no carro da família, um Gol cinza. Dirigiu até a rua Desembargador Ernesto Borges, na região do Indubrasil, e ateou fogo nos corpos.

João afirmou que esperava que os corpos só fossem encontrados em dois ou três dias, mas as chamas se espalharam rapidamente pela vegetação, chamando a atenção de moradores e do Corpo de Bombeiros.

Questionado sobre o que fez após o crime, disse que voltou para casa e dormiu “tão bem, como não dormia faz tempo”, pois acreditava ter se “livrado de um problema”.

Relacionamento e antecedentes

Vanessa e João se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento e viviam juntos havia dois anos. A família dela é de Chapadão do Sul, onde residia antes de se mudar para Campo Grande em 2023 para morar com João.

À época, um amigo do acusado contou à polícia que não havia histórico de violência no relacionamento, apenas discussões comuns. No entanto, cerca de dois meses antes do crime, João disse que pretendia matar a companheira e a filha para “se livrar", mas a testemunha não levou a sério pela gravidade da declaração.

Investigações e prisão

João Augusto Borges foi preso em 27 de maio e responderá por duplo feminicídio e ocultação de cadáver. Por conta da brutalidade, o delegado Rodolfo Daltro destacou a brutalidade do crime. 

“Tenho 11 anos de polícia e nunca lidei com tamanha brutalidade e frieza. Ele relatou detalhes grotescos sobre o estrangulamento da criança, a reação dela, que vou poupar vocês. Eu e outros policiais tivemos que parar o relatório várias vezes, tamanha foi a perplexidade e o mal-estar.”

Neste momento, as partes serão intimadas para apresentar alegações finais. O juiz tomará sua decisão  pronúncia e, em caso de confirmação, o julgamento será marcado no plenário do júri, ainda sem data definida.

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