O Senado Federal impôs sigilo de 100 anos sobre os registros de entrada do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, nas dependências da Casa. A informação foi revelada após pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI) feito pela coluna do site Metrópoles em 2 de julho deste ano.
Em resposta, o Senado justificou que os dados solicitados são de "caráter pessoal", com base no Decreto nº 7.724/2012 e na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o que garantiria a proteção dessas informações por um século. A decisão, no entanto, contraria o entendimento da Controladoria-Geral da União (CGU), que afirma haver interesse público na divulgação de listas de entrada em órgãos públicos, especialmente para identificar possíveis conflitos de interesse.
Apesar da negativa do Senado, a Câmara dos Deputados atendeu à solicitação do Metrópoles, informando que não há registros da entrada do lobista na Casa desde 1º de janeiro de 2019.
O lobista investigado no escândalo bilionário da “Farra do INSS” já foi recebido ao menos três vezes pelo senador Weverton Rocha (PDT-MA), segundo o próprio parlamentar, que afirmou ter tido reuniões com Careca em seu gabinete. Rocha também é apontado como responsável pela indicação de André Fidélis, ex-diretor de Benefícios do INSS, exonerado no início das investigações sobre descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
Em outra frente, o atual número 2 do Ministério da Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal, também recebeu o lobista em 13 de março de 2023, fora da agenda oficial. Na época, ele era secretário do Regime Geral de Previdência Social. Segundo sua versão, desconhecia o histórico de Careca e o recebeu por ele acompanhar um representante de correspondente bancário.
Esquema bilionário e operação da PF
O escândalo do INSS veio à tona a partir de dezembro de 2023, em série de reportagens publicadas pelo Metrópoles, revelando o crescimento explosivo da arrecadação de entidades por meio de descontos em aposentadorias — que chegaram a somar R$ 2 bilhões em um ano. As investigações apontam milhares de fraudes nas filiações de segurados.
As revelações resultaram na Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal em 23 de abril, e culminaram nas demissões do presidente do INSS e do então ministro da Previdência, Carlos Lupi. A CGU também passou a investigar o caso.
Careca do INSS segue ativo no setor
Mesmo alvo da Polícia Federal, Antonio Carlos Camilo Antunes continua atuando no setor de crédito consignado. Após ter carros de luxo apreendidos em um prédio no Setor Bancário Norte, em Brasília — denúncia feita pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) —, o lobista criou uma nova empresa de call center no mesmo endereço onde funcionavam as empresas Truetrust e Callvox, também ligadas ao ramo.
Além disso, entidades envolvidas no esquema ingressaram com ações judiciais contra Careca do INSS no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, cobrando o ressarcimento de ao menos R$ 647,4 mil relacionados à desfiliação de associados.
O silêncio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sobre o sigilo imposto à movimentação do lobista, soma-se à crescente pressão por transparência e responsabilização no caso que abalou a credibilidade do sistema previdenciário nacional.
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